1 de jul. de 2010

Estudos Literários Vol. III: Pico Della Mirandola, Cabala & A Origem da História

Aí, Victor, mais divertimento pra você! Sempre penso em ti quando tô tendo aula dessa matéria (a qual a última foi ontem) e sei que você gostaria muito dela. Hoje tenho prova e aí tudo acaba, mas continuarei postando Estudos Literários até amanhã. Beijos.

Pico Della Mirandola


Pico Della Mirandola foi humanista e tinha apenas 17 anos quando vendeu seu direito de herança do trono de Mirandola para seu irmão e saiu de lá. Vira discípulo de Poliziano, um grande humanista. Ele nasceu no ano de 1463, e com 18 anos já era conhecido na Itália como uma das maiores mentes humanistas. Também tinha grande memória para livros, sendo considerado uma biblioteca ambulante. Pico comprava muitos livros, inclusive bibliotecas já prontas, o que o fez comprar também bibliotecas que ensinavam sobre Alquimia, Cabala. Também penetra na cultura clássica e fechada, a qual acaba influenciando muito seu pensamento. Junta Cabala com filosofia grega.
A Cabala foi inventada na filosofia árabe-espanhola. A Andaluzia vivia uma espécie de Renascimento, onde todos (inclusive judeus e cristãos) podiam freqüentar as universidades árabes, onde preservavam tudo o que os gregos haviam “jogado fora”. Foi na Andaluzia que filósofos judeus (Abraham Abuláfia) organizavam um tipo de saber, que supostamente havia vindo dos antigos, mas que acabava de nascer. O que a Cabala diz? O livro gênesis conta que Deus criou um mundo ordenado. “E Deus disse: ‘Haja luz!’, e Deus disse...” Observando esse detalhe, os cabalistas vêem que a criação não passa de palavras, sendo ela apenas falar o nome das coisas. Dizer equivale a criar.
Se Deus criou o mundo falando, que língua Ele falava? A resposta encontrada foi hebraico. A Cabala faz a conversão das letras do alfabeto hebraico em números. Um número cabalístico é a conversão de um nome. 1 seria o número auto-suficiente e fundador, 3 o número generoso, etc. O principio da Cabala é que o mundo é unificado, todas as coisas que existem nasceram pelo principio de que Deus disse. Assim, todo o universo seria regido pelo mesmo principio unitário. O universo é coeso, coerente, harmônico. Não existem princípios antagônicos, todas as coisas estão interconectadas e o mundo é legível.
Pico diz que quando Deus criou o universo ele criou as coisas inanimadas, depois os animais e os anjos. Os anjos são criaturas que convivem com Deus, de mais pura alma. Deus então se sente solitário, já que as bestas, os animais, não tem consciência de nada, e vê que está faltando algo no universo. E cria o homem, que é diferente de tudo que já havia criado. Mas Deus deixa a criatura homem incompleta, pois se a completasse, os homens seriam iguais aos anjos. Sendo incompleto, o homem ganha de Deus a capacidade de continuar a criação d’Ele e de continuar a criação de si mesmo. Ele também dá ao homem a capacidade do livre arbítrio, podendo se tornar uma pessoa muito ruim ou muito boa. O homem também pode se degenerar ou regenerar. O homem pode até se tornar parte do sagrado, com vemos os santos e até mesmo Virgem Maria, uma humana que se tornou mãe de um deus.
Neste momento, o mais alto dos anjos, Lúcifer, reclama com Deus, pois não gosta do fato de que os homens são superiores aos anjos. Nessa briga, Lúcifer cria o inferno, por inveja dos homens, e inveja é o sentimento de querer que certa pessoa não tenha aquilo que ela tem. Sendo assim, o homem é a suprema criatura de Deus, estando a cima dos anjos. Pico Della Mirandola, em seu livro, faz uma espécie de teoria de porque o homem é o centro do universo. O homem é o que dá significado a criação. Ele é a criatura suprema. Édipo, de “Édipo Rei”, vira uma espécie de paradigma para o homem piqueano. O homem é uma criatura condenada a liberdade. Nós não somos obrigados a nada, a não ser a escolher. Mas o que te impede de dizer o que você pensa? O mundo, a inconsciência.
Pico contestava o porquê de tantas religiões se existia um só Deus. Chega à conclusão de que isso se dá pelo fato da má compreensão das pessoas em relação a Deus. Ele se dispõe, então, a fazer um encontro em Roma de todos os representantes de todas as religiões. Desse encontro sairia uma só religião universal, antenada nessa idéia de uma única inteligência que criou o mundo. O resultado disso foi que o Papa mandou matá-lo, e Pico acaba fugindo e voltando para Florença, onde é protegido por Lorenzo Médici.

História

O ambiente florentino produziu muita arte, ciência, tudo isso nessa cidade-estado. Será então que a raça humana não se desenvolveu mais nas cidades-estados do que nas nações? O mundo é para o homem e esta capacidade está disponível para o homem ler o livro do mundo. O mundo está aberto. Esse humanismo do século XV nasce portanto de que Florença seria Atenas revivida. Mas a medida que o avanço cultural ocorria, eles descobriram que a cultura grega não era de comerciantes.
O processo do Humanismo florentino tem dois momentos: 1) descobrir uma semelhança com Atenas; 2) Somos diferentes de Atenas. Sendo assim, descobriram a similitude e logo depois descobrem a diferença, tudo isso com o aprofundamento dos estudos. Isso descobre a História. Mas o que é História? A História é, a partir do domínio dos fatos, encontrar um sentido mais profundo para os episódios da vida da humanidade. Ou seja, aprofundar os fatos.
Em Florença, o humanista do primeiro momento que diz que Florença é Atenas ressuscitada está vivendo uma mentira. Porem, eles precisam de um dote, e esse dote é a Grécia. As duas são cidades-estados, seus cidadãos são dedicados a polis, que são similitudes. O aprofundamento dos estudos começa a encontrar diferenças. Isso leva a descoberta de que nunca um evento histórico pode se repetir.
A História é a ciência do particular e não do universal. Conforme a época muda, o homem vive e pensa diferente. As relações humanas são, assim, históricas. O que os florentinos descobriram é que Florença não é Atenas, é apenas Florença. Há também a descoberta de que o homem é o dono, o autor de si mesmo. Podemos construir a vida coletiva? O homem sozinho inventou a sociedade. Mas o homem poderá modelar a sua sociedade? Essa pergunta funda a política moderna. As principais cidades-estados da Itália eram Veneza, Milão, Genova, Pizza, Florença, Roma, Napoli, Ferrara, Mantova... cada uma constituía um estado independente.