O que é ler? Como se deve ler? A verdade é que a única coisa de fato que uma pessoa DEVA fazer ao ler alguma obra, é seguir seus próprios instintos, usar suas razões (Woolf). O que sabemos é que ler um processo lento; muito mais complicado do que a ação de ver. Ler um romance é uma arte complexa e difícil, o leitor tem que ser capaz de fazer grande proveito de sua imaginação para que se possa explorar tudo o que o romancista lhe oferece.
Existem dois tipos de leitura: a leitura estruturalista - a mais valorizada pelos professores; aquela que o leitor lê um texto tentando decifrar seu sentido que estaria ali, explicíto em algum lugar da obra - e a leitura interacionista - onde o leitor, o observador da obra a lê interpretando-a, atribuindo-a vários sentidos possíveis. Essa segunda torna o leitor um agente ativo na produção de uma obra, tendo um papel quase tão importante quanto o do autor, ao escrevê-la. Nesse caso, podemos considerar a leitura um sinônimo de compreensão, que se distingue do ato de interpretação que estaria localizada em uma estapa posterior, impregnada das experiências e opiniões pessoais (Coracini).
Partindo desse segundo tipo de leitura, sabemos que, por mais que o texto tente nos dar direções, como uma bula de remédio, por exemplo, ou até um manual de instruções, toda vez que o lemos, rompemos com sua lineariedade, transgredindo-o, fazendo-o, desfazendo-o, refazendo-o, sempre mergulhando nele, criando, a cada olhar uma nova leitura. Ler, compreender, interpretar ou produzir sentido é uma questão de percepção, de posição enunciativa.
A leitura de um leitor sempre será influenciada pelo ambiente em que vive. Por exemplo, hoje em dia o padrão de beleza não é o mesmo do século XVI; as mulheres lutam para se sentirem "magras e bonitas" se sujeitando até a regimes absurdos para isso, enquanto antigamente a mulher "gostosa" era a gordinha, cheinha. O que um homem dessa época, so séc. XVI, diria vendo as modelos de passarela dos dias de hoje? Como eles interpretariam uma obra, uma foto, uma pintura, com alguma dessas modelos?
Sendo assim, a identidade do leitor nunca será única. É ilusão acharmos que não somos influenciáveis. Pensaremos sempre no que as pessoas ao nosso redor acham de nós (por mais que neguemos isso), formando uma identidade que não é inteiramente só nossa, e é fundamental sempre na hora de interpretarmos um texto, uma pintura, ou qualquer outro tipo de arte. Porém é como Virginia Woolf diz, devemos tentar não criticar logo de início, tentar abrir nossa mente o máximo que conseguirmos, para só assim fazermos uma leitura plena de um texto.
Depois disso tudo, depois de analisarmos o leitor, devemos analisar o papel de um autor na obra. Até que ponto podemos deixar a biografia do autor influenciar na nossa interpretação de sua criação? Não podemos. Assim que publica sua obra, devemos considerar a morte do autor. Para que naça o leitor, o autor tem de morrer. Para conseguirmos apreciar de verdade a obra, não podemos nos deixar influenciar pela vida do autor, pelo que ele fez, pelas suas atitudes. Devemos julgar o recheio obra, e não quem a criou.
A escritura é a destruição de toda voz, de toda origem. Ela é este neutro, esse composto, esse oblíquo pelo qual foge o nosso sujeito, o branco-e-preto em que vem se perder toda identidade, a começar pela do corpo que se escreve (Barthes).
Concluindo, digo que para lermos temo que tentar nos libertar de quem somos, o máximo que conseguirmos. Para compreender realmente uma obra devemos nos libertar do autor, devemos sempre permanecer leitores, sem nos tornarmos críticos. Aprecio muito mais leitura interacionista do que a estruturalista - é por isso que sempre achei errado provas de "Interpretação de Texto" nas escolas, tirando dos aluns, em sua posição como leitores, de interpretar um texto conforme sua natureza. Ninguém pode ser considerado superior o bastante para se por em posição de decidir como alguém deveria interpretar um texto.
Referências bibliográficas:
CORACINI, Maria José. Concepções de leitura na (pós-)modernidade. In: Linguagem em (Dis)curso, vol. 6. São João da Boa Vista, SP: Unifeob, 2005.
WOOLF, Virginia. Como se deve ler um livro? In: O leitor comum. Rio de Janeiro, RJ: Graphia, 2007.
BARTHES, Roland. A morte do autor. In: O rumor da língua. São Paulo, SP: Câmara Brasileiro do Livro, 2004.
Existem dois tipos de leitura: a leitura estruturalista - a mais valorizada pelos professores; aquela que o leitor lê um texto tentando decifrar seu sentido que estaria ali, explicíto em algum lugar da obra - e a leitura interacionista - onde o leitor, o observador da obra a lê interpretando-a, atribuindo-a vários sentidos possíveis. Essa segunda torna o leitor um agente ativo na produção de uma obra, tendo um papel quase tão importante quanto o do autor, ao escrevê-la. Nesse caso, podemos considerar a leitura um sinônimo de compreensão, que se distingue do ato de interpretação que estaria localizada em uma estapa posterior, impregnada das experiências e opiniões pessoais (Coracini).
Partindo desse segundo tipo de leitura, sabemos que, por mais que o texto tente nos dar direções, como uma bula de remédio, por exemplo, ou até um manual de instruções, toda vez que o lemos, rompemos com sua lineariedade, transgredindo-o, fazendo-o, desfazendo-o, refazendo-o, sempre mergulhando nele, criando, a cada olhar uma nova leitura. Ler, compreender, interpretar ou produzir sentido é uma questão de percepção, de posição enunciativa.
A leitura de um leitor sempre será influenciada pelo ambiente em que vive. Por exemplo, hoje em dia o padrão de beleza não é o mesmo do século XVI; as mulheres lutam para se sentirem "magras e bonitas" se sujeitando até a regimes absurdos para isso, enquanto antigamente a mulher "gostosa" era a gordinha, cheinha. O que um homem dessa época, so séc. XVI, diria vendo as modelos de passarela dos dias de hoje? Como eles interpretariam uma obra, uma foto, uma pintura, com alguma dessas modelos?
Sendo assim, a identidade do leitor nunca será única. É ilusão acharmos que não somos influenciáveis. Pensaremos sempre no que as pessoas ao nosso redor acham de nós (por mais que neguemos isso), formando uma identidade que não é inteiramente só nossa, e é fundamental sempre na hora de interpretarmos um texto, uma pintura, ou qualquer outro tipo de arte. Porém é como Virginia Woolf diz, devemos tentar não criticar logo de início, tentar abrir nossa mente o máximo que conseguirmos, para só assim fazermos uma leitura plena de um texto.
Depois disso tudo, depois de analisarmos o leitor, devemos analisar o papel de um autor na obra. Até que ponto podemos deixar a biografia do autor influenciar na nossa interpretação de sua criação? Não podemos. Assim que publica sua obra, devemos considerar a morte do autor. Para que naça o leitor, o autor tem de morrer. Para conseguirmos apreciar de verdade a obra, não podemos nos deixar influenciar pela vida do autor, pelo que ele fez, pelas suas atitudes. Devemos julgar o recheio obra, e não quem a criou.
A escritura é a destruição de toda voz, de toda origem. Ela é este neutro, esse composto, esse oblíquo pelo qual foge o nosso sujeito, o branco-e-preto em que vem se perder toda identidade, a começar pela do corpo que se escreve (Barthes).
Concluindo, digo que para lermos temo que tentar nos libertar de quem somos, o máximo que conseguirmos. Para compreender realmente uma obra devemos nos libertar do autor, devemos sempre permanecer leitores, sem nos tornarmos críticos. Aprecio muito mais leitura interacionista do que a estruturalista - é por isso que sempre achei errado provas de "Interpretação de Texto" nas escolas, tirando dos aluns, em sua posição como leitores, de interpretar um texto conforme sua natureza. Ninguém pode ser considerado superior o bastante para se por em posição de decidir como alguém deveria interpretar um texto.
Referências bibliográficas:
CORACINI, Maria José. Concepções de leitura na (pós-)modernidade. In: Linguagem em (Dis)curso, vol. 6. São João da Boa Vista, SP: Unifeob, 2005.
WOOLF, Virginia. Como se deve ler um livro? In: O leitor comum. Rio de Janeiro, RJ: Graphia, 2007.
BARTHES, Roland. A morte do autor. In: O rumor da língua. São Paulo, SP: Câmara Brasileiro do Livro, 2004.